Mensalão Mineiro do PSDB

CAROLINA BRÍGIDO E ISABEL BRAGA (EMAIL)
Publicado:



Eduardo Azeredo vai discursar nesta terça-feira na Câmara -
Foto: André Coelho / André Coelho/19-12-2012


Eduardo Azeredo vai discursar nesta terça-feira na Câmara - André Coelho / André Coelho/19-12-2012
BRASÍLIA - O deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) subirá nesta terça-feira à tribuna da Câmara para alegar que é tão inocente no caso do mensalão mineiro quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria sido no processo do mensalão já julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Com discurso político pronto, Azeredo ainda foge, no entanto, de dar explicações sobre as acusações que o Ministério Público Federal apresentou na semana passada. O deputado tucano é acusado de ter participado diretamente do esquema operado em 1998 por Marcos Valério.
No novo processo que deve ser examinado pelo STF ainda este semestre, Azeredo aparece como um candidato que teria tido um triplo papel no mensalão ocorrido durante a campanha para sua reeleição ao governo de Minas Gerais.
Numa comparação com o mensalão do governo petista, o deputado era o chefe do Executivo beneficiado pelo esquema, como Lula. Mas ele também atuou, segundo o MPF, como o ex-ministro José Dirceu, coordenando as operações de desvio de recursos e lavagem de dinheiro em sua campanha; e ainda endossou um empréstimo para repassar recursos a Marcos Valério, operador do esquema, como fez José Genoino, ex-presidente do PT, no mensalão federal.
Azeredo vai insistir, porém, que não tinha participação direta nas decisões financeiras de sua campanha em 1998. E vai sustentar que nem sempre um governante consegue tomar conhecimento ou controlar todas as ações feitas por seus auxiliares.
— As responsabilidades do governador são semelhantes às de um presidente da República. Reitero que não autorizei nenhum patrocínio publicitário e vou ao plenário para tratar desse processo — disse Azeredo, numa referência às responsabilidades de Lula, que não foi sequer tornado réu no caso do mensalão do PT.
Perguntado ontem sobre detalhes as acusações enviadas ao STF pelo Ministério Público, Azeredo desconversou. Evitou falar dos telefonemas que trocou, entre 2000 e 2004, com Marcos Valério, que hoje está preso e acusado de operar o mensalão petista. Azeredo também não falou sobre o fato de ter sido avalista de empréstimo contraído em 2002 para pagar o operador do mensalão tucano.
— Isso foi quatro anos depois (de 1998). Isso é outra coisa, ok?— disse, desligando o telefone.
“Não se trata de presunções”
Mas para o procurador Rodrigo Janot, o envolvimento de Azeredo está mais do que claro. Se no mensalão federal Dirceu foi o mentor intelectual do esquema, segundo o próprio Ministério Público, na versão tucana do esquema Azeredo foi o maestro. “Os fatos não teriam como ser praticados na forma em que provados se não tivessem a participação essencial e decisiva, como verdadeiro coordenador e maestro, ditando as linhas de condutas, de Eduardo Azeredo. Não se tratam de presunções, mas de compreensão dos fatos segundo a realidade das coisas e a prova dos autos”, escreveu Janot, nas alegações finais.
Em outro trecho, o procurador-geral mostra que Azeredo foi avalista de um empréstimo contraído pela agência SMP&B, de Marcos Valério, operador dos dois esquemas, perante o Banco Rural, que também serviu de caminho para as duas versões do valerioduto. No mensalão federal, Genoino avalizou uma operação semelhante quando era presidente do PT.
Sobre as 57 ligações telefônicas entre Azeredo e o Valério o procurador-geral é categórico: “Esse número expressivo de ligações denota, a mais não poder, um relacionamento muito próximo entre o réu e Marcos Valério, sendo mais um elemento que, somado aos demais, comprova a inconsistência da versão defensiva de que Eduardo Azeredo não teria nenhum conhecimento sobre o desvio de valores públicos para emprego em sua campanha à reeleição”.
O chefe do MP tem uma explicação para as datas das ligações, iniciadas dois anos depois da campanha. É que, na época, o então coordenador financeiro da campanha, Cláudio Mourão, ameaçava denunciar o esquema. Azeredo teria entrado pessoalmente na linha de frente para evitar o estrago e calar o ex-colega.
“Após tomar conhecimento das intenções de Cláudio Mourão, Eduardo Azeredo entendeu por bem adotar uma estratégia de evitar disseminação púbica dessa cobrança e tentou neutralizar os potenciais danos que o ex-gestor financeiro de sua campanha à reeleição poderia causar”, explicou Janot, nas alegações finais.
No documento enviado ao STF, Janot sugere pena de 22 anos de prisão mais pagamento de multa de R$ 400 mil a Azeredo, acusado de peculato e lavagem de dinheiro. A justificativa para uma pena tão elevada é a importância do cargo ocupado pelo réu à época. “Como mandatário de cargo público de extrema relevância — chefe do Poder Executivo Estadual — merece, sem sobra de dúvidas, uma exacerbação de sua pena pela prática de crimes que conflitem com o próprio interesse da coletividade”, anotou o procurador.
Segundo as investigações, o mensalão tucano funcionava de forma muito semelhante ao mensalão do governo Lula. A diferença é que a versão mineira desviou R$ 3,5 milhões dos cofres mineiro (R$ 9,3 milhões em valores atualizados). O mensalão petista, mais de R$ 100 milhões.
Para o MP, o mensalão mineiro foi uma espécie de ensaio para o esquema posto em prática no governo Lula. Enquanto o mensalão federal contava inicialmente com 40 réus, o processo contra Azeredo só tem ele como réu. O julgamento deve começar ainda neste semestre.
Segundo o Ministério Público, o esquema de Azeredo funcionava da seguinte forma: primeiro, a SMP&B tomou dinheiro emprestado no Banco Rural e repassou a verba para a campanha de Azeredo. Para saldar a dívida no banco, três estatais deram dinheiro para a empresa de Valério. Oficialmente, a SMP&B era a intermediária do patrocínio do governo a três eventos de motocross. Os eventos custaram bem menos que o patrocínio aprovado. O restante do dinheiro foi direito para a campanha tucana.
A bancada tucana aguardará o pronunciamento de Azeredo para se manifestar de forma mais veemente. A linha já foi dada pelo senador e presidente tucano Aécio Neves: dizer que Azeredo é um “homem de bem”, mas o partido vai respeitar a decisão do Supremo.
Segundo assessores, Azeredo tem recebido telefonemas de solidariedade de deputados tucanos. Além de reforçar a semelhança com o papel de Lula no mensalão petista, Azeredo irá mostrar que a peça apresentada pelo procurador-geral da República inclui documentos falsos, como recibos e a lista com movimentações financeiras da campanha de 1998 feita por Nilton Monteiro, que está preso por falsificação. Segundo tucanos, Azeredo se articulou com o presidente da Câmara, Henrique Alves, e terá direito a falar por cerca de 15 minutos para se defender das acusações do procurador.

fonte  http://oglobo.globo.com


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/denuncia-da-procuradoria-detalha-envolvimento-de-azeredo-no-mensalao-tucano-11567354#ixzz2t160xhh6 
© 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fora Zema e suas Privatizações

A força do medo

A vergonha e orgulho de ser brasileiro