Casal deixa de ter filhos para ter boa vida

Economia de quem optou por não gerar herdeiros é de pelo menos 25% de toda a renda obtida em décadas. Mas não ter filhos, por si só, não garante saúde financeira, diz especialista

A terapeuta Maria Helena Novaes*, de 40 anos, optou por não ter filhos. Com uma renda confortável, ela dificilmente teria realizado o sonho de conhecer o mundo se tivesse engravidado. E essa escolha teve mais ligação com dinheiro do que com falta de tempo ou dedicação.

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Casal com renda de R$ 5 mil pode acumular R$ 3,3 milhões em 30 anos, com 25% do que iria para os filhos

Ela e o marido traçaram um planejamento financeiro para desfrutar da vida de turistas. “Sempre viajamos duas vezes por ano, mas, se tivéssemos filhos, não conseguiríamos bancar todo o conforto e mimos dessas viagens”, conta Maria Helena.
Gisele Céo*, de 33 anos, deixou de ser dependente dos pais há pouco tempo, ao passar em um concurso público federal. Com renda em torno de R$ 6 mil, ela não tem vergonha em dizer que prefere não comprometer seu orçamento com as despesas de um filho, embora diga gostar de crianças.
"Agora que posso decidir como gastar meu dinheiro como bem entender, vou me endividar por anos, sem fazer minhas vontades? Não, existem outras formas de encontrar realização além de filhos, e o dinheiro proporciona algumas delas, por que não?".
Pessoas sem filhos são cada vez mais numerosas no Brasil. O percentual de casais que optaram por não gerar herdeiros cresceu de 14% para 19% entre 2002 e 2012, segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no ano passado.
"Mais caro que um carro de luxo e um cruzeiro pelo mundo"

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Grupo dos sem filhos ganhou o apelido dink nos EUA ("dupla renda, sem filhos")

De tão representativo, o grupo dos sem filhos ganhou o apelido de "dink" nos Estados Unidos (abreviação de "double income, no kid", ou "dupla renda, sem filhos"). A economista e psicanalista francesa Corinne Maier, autora do livro "Sem Filhos - 40 Razões Para Você Não Ter", admite ter se arrependido de engravidar e um dos motivos foi financeiro.
"Um filho custa uma fortuna. Está entre as compras mais caras que um consumidor médio pode fazer em sua vida. Em matéria de dinheiro, custa mais caro que um carro de luxo do último tipo, um cruzeiro ao redor do mundo, um apartamento de quarto e sala em Paris. Pior ainda, o custo total pode aumentar no correr dos anos", diz, em trecho do livro.
Um cálculo feito pelo professor da ESPM e presidente do Instituto Nacional de Vendas e Trade Marketing (Invent), Adriano Maluf Amui, mostrou que, dependendo da condição econômica dos pais e da disposição em investir no futuro do filho, os gastos com o rebento podem variar entre R$ 200 mil e R$ 1 milhão ao longo de 21 anos – considerando-se apenas gastos básicos, com educação, saúde e lazer.
“O custo de criar um filho aumentou muito para a nova geração em idade fértil”, diz o educador financeiro do instituto Dsop, Reinaldo Domingos. Levando-se em conta o aumento do custo da educação e o prolongamento da dependência para perto dos 30 anos de idade, a decisão por ter filhos passa cada vez mais pela condição financeira do casal.
"Se você não quer comprometer 25% do que ganha, não tenha filhos"
Os pais precisarão desembolsar, no mínimo, 25% de todo o ganho familiar nesta nova vida, como um investimento, ao longo de décadas, estima Domingos. “Se você não quer comprometer 25% da sua renda com outra pessoa, não tenha filhos”, alerta o educador financeiro.

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Ausência de filhos não garante vida financeira confortável, alerta educador do Dsop

Embora não ter filhos gere uma economia considerável, alerta Domingos, essa opção está longe de garantir uma vida financeira tranquila. Da mesma forma, quem gerou uma vida pode ter pleno controle de seu orçamento. A educação financeira, lembra, nada tem a ver com a escolha em ter filhos.
Se o casal for excessivamente consumista, mesmo sem filhos, pode se frustrar por não conseguir formar uma poupança ou fazer um plano de previdencia como gostaria. Já uma pessoa controlada e com perfil investidor pode ter dinheiro de sobra para suas realizações pessoais, ao lado dos filhos.
Portanto, diz Domingos, ao considerar motivos financeiros dentro da opção de ter filhos, deve-se levar em conta não só quanto se ganha, mas como a pessoa lida com o dinheiro. Deve-se pesar sonhos e prazeres: por exemplo, sem filhos, pode-se destinar os 25% para umqa doação, para um plano de aposentadoria ou um estilo de vida mais confortável.
Economia dos "sem filhos" pode ser direcionada para outros sonhos
O educador financeiro do Dsop calculou três casos hipotéticos de quanto um casal pode acumular ao longo de décadas com a quantia que deixaria de investir se tivesse filhos. A estimativa considerou aportes mensais de 25% da renda familiar, levando em conta um rendimento médio de 0,65% por mês e a inflação anual de 5,91% ao ano (correspondente ao IPCA do ano passado):
CASO 1 - Renda de R$ 2 mil
Investimento mensal: R$ 500,00
Valor acumulado em 20 anos: R$ 452.290,18
Valor acumulado em 30 anos: R$ 1.345.061,76                                                                   
CASO 2 - Renda de R$ 5 mil
Investimento mensal: R$ 1.250,00
Valor acumulado em 20 anos: R$ 1.130.725,46
Valor acumulado em 30 anos: R$ 3.362. 654,41
CASO 3 - Renda de R$ 10 mil
Investimento mensal: R$ 2.500,00
Valor acumulado em 20 anos: R$ 2.261.450,91
Valor acumulado em 30 anos: R$ 6.725.308,81
fonte http://economia.ig.com.br/financas/meubolso/2014-09-28/casais-trocam-filhos-por-viagens-sonhos-de-consumo-e-folga-no-orcamento.html

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