Policiais invadem ocupação Mauá e coagem moradores em SP




“Bateram na minha porta, quando eu abri, colocaram a arma na minha cara e eu tomei o maior susto. (…) Perguntaram quem morava aqui. (…) [O policial] entrou até o quarto, viu meu neto deitado, jogando vídeogame e pediu desculpa. Eu me assustei, pensei logo no despejo”. O relato é de Dona Francisca, de 55 anos, desempregada, que está visitando a filha moradora da Ocupação Mauá, na região central de São Paulo.

Por Vanessa Silva, no Portal Vermelho


Vanessa Silva
Ocupação Mauá
Vista do pátio interno do prédio ocupado por mais de 300 famílias na região central de São Paulo
Na tarde desta sexta-feira (29), uma ação policial assustou os moradores da chamada Ocupação Mauá, localizada em um antigo hotel na região central de São Paulo. Munidos de armamento pesado, de acordo com relatos, os policiais revistaram moradores e apartamentos de maneira “abusiva”, já que não apresentaram mandado judicial.

A reintegração de posse do prédio estava marcada para o dia 21 deste mês, mas a última decisão, do desembargador Miguel Petroni Neto, impediu, nos tribunais, qualquer medida de despejo, até que seja decidido o direito de acesso à justiça gratuita pelos ocupantes do prédio. Daí o medo relatado por muitos moradores de que já se tratasse da reintegração.

“Eles perguntaram quantos andares tem aqui e minha mãe disse: ‘seis andares’. E essas portas? Aí eu disse: ‘cada porta desta aqui é um morador’. Um virou e olhou pro outro e disse: ‘sem chance’. (…) Eu entendi que não tinha chance de botar a gente pra fora. Eu entendi assim”, relatou a moradora Raquel, de 28 anos, desempregada, que mora na Ocupação com seu marido, sua mãe (que a está visitando) e dois filhos. “O despejo é a primeira coisa que me veio na cabeça”, completou Francisca.

A invasão

Maria Elizete, de 47 anos, trabalha como porteira no prédio ocupado e viu o momento em que os policiais entraram: “foi por volta da 1h20 da tarde. Um morador saiu e deixou o portão aberto, então eles já embarcaram pra dentro. Já entraram na faixa de uns 30 policiais, eram umas oito viaturas”. Eles chegaram aqui “e me pediram para levantar a blusa para ver se eu tinha alguma coisa. Eu disse que não. As crianças todas aqui e eles não respeitaram”.

“Eles tinham escopeta, 38… Nós perguntamos o que eles queriam, mas eles não disseram nada”. Vários moradores afirmaram que eles só foram embora após o coordenador da ocupação dizer que ia ligar para o advogado. De acordo com a porteira, a Rede Record vai buscar as imagens da câmera de segurança nesta quinta-feira (30).

“Eu acho que eles estão querendo só intimidar. Querem achar uma forma tática para intimidar já que a gente tem esse problema de despejo. Pareceu isso. A gente perguntava o que eles estavam procurando, mas eles nada falavam, só ‘fica quieta aí’ com a maior ignorância”, relatou Elizete.

Outro morador, Florentino, conhecido como Tampico, de 43 anos, desempregado, disse que foi levado para os fundos do pátio junto com os policiais que, de arma em punho, o revistaram querendo saber quem era o dono de uma moto específica entre as que ficam no pátio do prédio: “eu não tenho moto, nem carro, nem bicicleta”, respondeu. “Mas eu fiquei assustado, foi muita falta de respeito”. 

A justificativa

Já Moisés, 51 anos, que trabalha com toldos e pintura, também disse ter sido coagido pela ação policial. Segundo seu relato, estava com seu material de trabalho no pátio quando os policiais o abordaram, insinuando que o maquinário também seria roubado. 

A tal moto foi usada como justificativa, após a invasão, para a atitude policial. De acordo com os militares, um indivíduo teria roubado uma moto na região e depois teria “entrado correndo no prédio”. A versão policial foi relatada por vários moradores.

“A gente está aqui, dentro da nossa casa. Porque se a gente mora aqui é porque esta é a nossa casa. Eles chegaram e invadiram, entraram sem mandado nem nada. Se o portão estava aberto, eles teriam que ter explicado, ter falado com algum responsável daqui, não chegar colocando arma na cabeça de todo mundo, como se fossemos ladrões. Inclusive um policial disse que eles podiam entrar aqui porque não é nossa casa. Eu disse: ‘qualquer problema que acontece aqui nós somos responsáveis, então aqui é a nossa casa e pra entrar aqui, tem que ter autorização’”. 

Ocupação foi cenário para gravação do clipe Mil Faces de um Homem Leal - Marighella do Racionais Mcs

Abuso de poder


De acordo com a advogada Juliana Hereda, a abordagem policial foi “totalmente abusiva, porque chegaram empunhando armas, amedrontando os moradores sem explicar o porquê e sem apresentar mandado judicial. É uma operação totalmente irregular”.

Ela confirmou a defesa de Moisés: “é uma área residencial, onde moram centenas de famílias”. Questionada sobre como deveria ser a abordagem policial padrão, ela esclareceu que “primeiro tinham que conversar com a pessoa que estava na portaria, dizer a característica do suposto ladrão para que as pessoas ajudassem a identificar. Não é de interesse dos moradores que tenha entre eles alguém que tenha cometido algum crime”, sentenciou. 

“Fazendo um paralelo com qualquer imóvel de classe média, a PM não entra sem autorização muito menos empunhando armas”. (…) Quando perguntado se a ação poderia ter alguma relação com a ordem de reintegração, ela pontua: “é uma ocupação muito forte, muito visada e isso incomoda. A PM sabia onde ela estava indo”.

Outro lado

A Redação enviou as seguintes questões para a assessoria de imprensa da Polícia Militar: “Que tipo de ação aconteceu [na Ocupação Mauá]? e “os moradores afirmam que a ação foi truculenta e que os policiais não tinham mandado para entrar no local. A informação procede?”. Como resposta, a assessoria encaminhou a seguinte mensagem: “Boa noite Vanessa, não houve registro de ocorrência nesse endereço”.

fonte http://www.vermelho.org.br

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