ESCOLA E COMUNIDADE promovem a paz e a cidadania


Jornal Online
Edição 1193 - 23 a 29 de abril de 2012
ESCOLA E COMUNIDADE promovem a paz e a cidadania
“Três jovens morrem assassinados no final de semana no bairro Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte”. “Adolescente é baleado após confronto com a PM no complexo do Alemão”. Manchetes como estas são estampadas diariamente em jornais de todo o País, revelando uma realidade que engrossa as estatísticas da violência contra crianças, adolescentes e jovens em regiões consideradas de risco. Cansada de esperar por uma resposta eficaz do Estado, a sociedade está arregaçando as mangas e buscando solução para o caos que se instalou nas áreas de maior vulnerabilidade social. Projetos realizados por escolas localizadas nessas regiões têm levado otimismo a quem antes sequer enxergava uma luz no fim do túnel da violência. Por meio de iniciativas culturais e que promovem a cidadania, começa a se tornar realidade a reversão de realidades tão complexas. O nome dado a esses projetos são muitos, mas o que marca é a determinação de professores, policiais, escolares, família e comunidade para reaver a vida de jovens esquecidos pela sociedade.

Como esclarecem especialistas e professores envolvidos nos projetos, o objetivo é a transformação da vida do aluno revertida em benefícios para a comunidade. Isso significa a mudança estrutural de um sistema que oprime, divide e segrega para uma coletividade sólida voltada para o bem comum. O foco é a cidadania participativa, e agregar valores éticos, morais e sociais é o caminho para a aprendizagem e a transformação do sujeito. O desafio é mobilizar a comunidade e fazer com que ela seja parceira e não mero objeto de ação.
Para o professor e presidente do Sindicato dos Especialistas em Educação de São Paulo (UDEMO), Francisco Poli, a escola não existe isolada do contexto social, mas em função da comunidade que atende. “É impossível que uma escola funcione bem, se não houver integração entre professores, família e comunidade”, diz.
Palestrante e voluntária em projetos educacionais, a psicopedagoga, Márcia Zakur Ayres, também compartilha da opinião dos articulistas e acrescenta que a integração deve focar a transformação. “A escola já tem como objetivo a formação. Transformar vai além, é algo que transpõe o que ela normalmente faz”, afirma.

Mobilização em torno da cidadania comunitária
Nos últimos anos, alguns avanços foram alcançados no Brasil na área de educação, por exemplo, a universalização do ensino fundamental. No entanto, não basta garantir o direito de todos à escola. É preciso assegurar também as condições para que as crianças permaneçam e progridam nos estudos, garantindo-lhes educação de qualidade. “Somente com a aglutinação de forças de todos os envolvidos será possível assegurar ensino público e gratuito de qualidade e acessível a todos”, destaca a professora e articulista Luciana Catalão.
A participação da comunidade na escola está prevista na Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Da mesma forma, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.396, de 20 de dezembro de 1996) traz o conceito ampliado de educação, entendendo que a gestão democrática é o método gerencial a ser adotado.
A relação escola-comunidade melhora a qualidade da experiência escolar e o desempenho dos alunos nos momentos de produção de conhecimento. Para potencializar esta relação, o especialista Francisco Poli destaca a capacidade da escola de transformar a realidade. Para ele, a participação efetiva da família e da comunidade é essencial para o desenvolvimento de um projeto pedagógico preventivo relacionado à violência.

A função social da escola

A função da escola é complexa, ampla e diversificada. Para isso, ela precisa acompanhar as mudanças atualizando seu currículo, metodologia e, principalmente, voltar-se para a realidade em que está inserida, o que a faz importante espaço de encontro da comunidade. Esta configuração permite que ela reúna, além de jovens e crianças, pais, funcionários, professores e demais membros da comunidade. Ao analisar a questão, o professor Francisco Poli revela que “obviamente a violência está presente na escola porque ela está inserida na sociedade”. Ainda assim, ele acredita que a situação, apesar da aparente negatividade, pode ser positiva e revertida em prol da sociedade. “Os pais, preocupados com a possibilidade de contato dos filhos com a violência, acabam fazendo com que o objetivo de integração escola e família aconteça”.
De acordo com a diretora da Escola Municipal Israel Pinheiro, no Alto Vera Cruz, Sônia Carolina Ferreira, do envolvimento entre família e escola podem convergir ações de melhoria tanto no ambiente interno da instituição como na vida da comunidade. “Para que isso ocorra é necessário construir esse espaço de convivência social e comunitária criando possibilidades de diálogo e de ações que vão além do ensino formal”, observa.
“Parte da relação de formação do sujeito consciente de sua responsabilidade na sociedade, que resulta em práticas cidadãs, surge do aprofundamento das relações entre escola e família, além do envolvimento com outros movimentos sociais locais”, declara a professora e articulista, Luciana Catalão. Ela acrescenta ainda que a abertura da escola requer um projeto pedagógico que proponha atividades com o objetivo de envolver a comunidade.
“A comunidade organizada e envolvida com as questões do universo escolar, participando da tomada de decisões, passa a reconhecer o espaço da escola como dela própria, transformando as relações de envolvimento e compromisso a partir da identificação e da noção de pertencimento”, afirma o professor Francisco Poli. Ainda sobre a necessidade de construção da cidadania e a aproximação da comunidade, a psicopedagoga Márcia Zakur acrescenta que “conhecer as próprias necessidades e fragilidades e buscar soluções para os problemas enfrentados é também exercício de cidadania que fortalece a função social da instituição de ensino”.

Matéria: Renato Crispiano

Fonte jornal opinião

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