Serviços públicos falham e deixam população desamparada
Serviços públicos falham e deixam população desamparada
Belo-horizontino cobra mais ações e rapidez nas respostas das demandas apresentadas às instituições
CARLOS RHIENCK
Maria Flávia e a mãe, Maria Torres, espalharam velas devido aos constantes apagões
No país em que a carga de impostos equivale a quase cinco meses de salário por ano, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, o contribuinte espera, no mínimo, ser bem atendido pelos serviços públicos. Mas, na prática, há uma insatisfação crescente com o atendimento, sobretudo o prestado por meio de linhas telefônicas criadas, na teoria, para agilizar o recebimento das demandas e a solução dos problemas.
E eles não são poucos. Buracos abertos nas ruas, desperdício de água em canos estourados, falta de energia elétrica, árvores que ameaçam cair sobre imóveis, suspeitas e flagrantes de crimes são comunicados todos os dias por pessoas que, do outro lado da linha, cobram providências. As solicitações, no entanto, podem se arrastar por anos. “Há uma insatisfação generalizada quanto ao uso dos meios de reclamação”, afirma Vera Alice Cardoso Silva, professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A angústia é sentida desde 2008 pelos parentes do universitário Danilo Joubert Silva Pereira, de 24 anos. Eles moram no bairro Jardim Inconfidência, na região Noroeste de Belo Horizonte, e cobram da prefeitura o corte de uma castanheira na rua Antônio Preto. “A árvore é muito grande e parte do tronco está secando, ameaçando cair sobre nossa casa”, afirma Danilo. Segundo ele, a última ligação foi feita em 23 de fevereiro. “Como das outras vezes, falaram que o problema seria resolvido em até 45 dias, mas a árvore continua no mesmo lugar”.
O drama do casal de aposentados Jair Fernandes, de 90 anos, e Maria Batista Fernandes, de 91, dura seis meses. Eles telefonam toda semana para o 156 (BH Resolve), da prefeitura, cobrando o fechamento de duas crateras no asfalto, uma delas bem em frente à residência dos idosos, na rua Tocantins, Conjunto Celso Machado, na região da Pampulha. “A resposta é sempre a mesma: ‘Vamos providenciar o conserto, senhor’”, desabafa Jair.
Apenas colocaram obstáculos próximo aos buracos e restringiram o tráfego na rua. “O problema surgiu na primeira chuva, depois que o asfalto foi reformado. Ou seja, o serviço foi precário, assim como o atendimento de agora. Fica difícil chegar carro na nossa porta e há risco de acidentes”, diz Maria Batista, que precisa de um andador para se locomover.
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Regional Noroeste informou que a demanda do corte da árvore foi encaminhada à Regional Pampulha, a qual parte do bairro Jardim Inconfidência passou a responder administrativamente, em agosto do ano passado. Não há previsão de quando o serviço será feito.
Quanto ao fechamento dos buracos na rua Tocantins, a Regional Pampulha informa que a responsabilidade é da empresa que foi contratada para fazer o recapeamento da via. Também não há previsão de quando o problema será resolvido.
Reclamações contra Copasa e Cemig
Revoltada com uma cena que flagrou em 21 de abril, uma turismóloga de 29 anos, que pediu para não ser identificada, entrou em contato com o Hoje em Dia. Na manhã daquele dia, ela telefonou para a Copasa informando que tinha estourado um cano na rua onde mora, no bairro Padre Eustáquio, região Noroeste de Belo Horizonte.
“Só chegaram ao local no início da noite, em uma caminhonete sem placa na frente. Mas o que mais me espantou foi ver um deles bebendo cerveja, dentro do carro”, diz. Segundo a turismóloga, os prestadores de serviço deixaram o local sem resolver o problema. “A rua toda ficou sem água até a tarde do outro dia”.
Por meio de nota, a Copasa informou que vai “apurar a ocorrência e, caso seja comprovado que se trata de funcionário da estatal, ou de alguma empresa contratada, serão tomadas todas as medidas administrativas e disciplinares cabíveis”.
Quem também sofre com uma concessionária de serviço público é a comerciante Maria Torres da Fonseca, de 82 anos. Pela casa dela, no bairro Pompéu, em Sabará, na Região Metropolitana de BH, há muitas velas espalhadas. O imóvel fica ao lado do restaurante que ela comanda. Por mês, Maria paga cerca de R$ 1 mil de energia elétrica. “Basta chover mais forte para faltar luz. A gente telefona para a Cemig, mas estamos acostumados a ficar dois dias sem energia”.
Tempo suficiente para que os alimentos mantidos nos congeladores estraguem. “Quando a gente liga, falam que nossa solicitação já foi registrada e não adianta telefonar mais de uma vez. As vezes nos deixam esperando mais de uma hora ouvindo aquela musiquinha pelo telefone”, reclama Maria Flávia da Fonseca Ferreira, de 58, filha da comerciante.
A reportagem enviou e-mail para a Cemig às 14h24 de sexta-feira, como solicitado pela companhia. A resposta veio às 18h25, com a Gerência de Comunicação Institucional da empresa informando apenas que, “para responder os questionamentos, necessitaria de mais informações sobre a unidade consumidora”.
Fonte http://www.hojeemdia.com.br
Comentários
Postar um comentário