Em BH, votar em quem? - Carta de frei Gilvander aos eleitores de Belo Horizonte.



"Nunca se esqueça de que apenas os peixes mortos nadam a favor da  correnteza." (Malcolm Muggeridge)
Prezado/a eleitor/a de Belo Horizonte, dia 7 de outubro de 2012 escolheremos o futuro prefeito de Belo Horizonte e os 41 vereadores/ras para a Câmara Municipal.
Somos seres políticos”, já dizia Aristóteles. Ingenuidade dizer: “Sou apolítico. Não gosto de política. Sou neutro.” Todos nós fazemos Política o tempo todo. Política é como respiração. Sem respiração, morremos. Política refere-se ao exercício de alguma forma de poder, como nos ensina Bertold Brecht em “O Analfabeto Político”. A política, como vocação, é a mais nobre das atividades; como profissão, a mais vil. Urge discernir, resgatar a história do candidato. “Diga-me com quem andas...”. Quem o financia? Quais suas ações no passado e no presente? Urge olhar as ações dos Partidos também.

Cientes de que devemos dedicar as nossas energias na Política de empoderamento da luta dos pobres, precisamos também, é necessário durante o processo eleitoral, momento decisivo, contribuir para que os melhores – se não, os menos piores - candidatos sejam eleitos.
Considerando que o marketing político e a propaganda ensurdecedora criam uma cortina de fumaça sobre a realidade deixando muita gente cegada, vamos enumerar, abaixo, alguns fatos e reflexões com o intuito de ajudar a discernir qual deve ser eleito para prefeito de BH, dentre os dois candidatos com chances reais de vitória: Márcio Lacerda ou Patrus Ananias.
Patrus tem uma história política digna de respeito: vereador, relator da Lei Orgânica de BH, prefeito de BH (de 1993 a 1996) com significativas realizações nas áreas sociais e com aprovação de 80% da população, deputado federal mais votado de Minas Gerais com mais de 500 mil votos, ministro do Ministério do Desenvolvimento Social do Governo Lula à frente do Programa Bolsa Família e outras políticas sociais que tiraram da miséria milhões de famílias e sem nenhuma denúncia de corrupção em sua história política.
Márcio Lacerda, seis meses antes de ser eleito prefeito de BH era um ilustre desconhecido do povo. Foi elevado a prefeito de BH graças a um acordo de cúpula firmado por alguns figurões do PT, PSDB e PSB e empurrado goela abaixo do povo belorizontino, sob uma agressiva campanha publicitária. Lacerda era o coadjuvante do famigerado Choque de Gestão do Aécio Neves e Anastasia, que, além de cortar investimentos nas áreas sociais, ultimamente foi desmascarado quando tiveram que admitir que o Estado de Minas está pesadamente endividado.
O PT errou feio ao apoiar a eleição de Márcio Lacerda há 4 anos atrás. Quanto mais avança sua administração, mais claro fica que, de fato, Márcio Lacerda é um grande empresário que trata Belo Horizonte como se fosse uma empresa. Nega-se intransigentemente a ouvir as reivindicações das Comunidades ameaçadas de desalojamento forçado, especialmente Camilo Torres, Dandara, Irmã Dorothy e Zilah Sposito-Helena Greco (nesta última, no dia 21/10/2011, a PBH com apoio da Polícia destruiu, sem ordem judicial, 27 casas de 27 famílias, numa truculência odiosa). Em maio de 2012, o prefeito Márcio Lacerda exigiu junto ao Judiciário reintegração de posse de um terreno que estava abandonado, mas tinha sido ocupado pela Ocupação Eliana Silva e, com apoio da PM, do governo estadual e do TJMG, jogou na rua da amargura mais 350 famílias sem-terra e sem-casa, sem nenhuma alternativa digna. O terreno voltou a ser local de desova de cadáver.
O déficit habitacional em Belo Horizonte está acima de 100 mil moradias. Só no primeiro dia de cadastramento para o Programa Minha Casa Minha Vida, há 3 anos atrás, 198 mil famílias se inscreveram. O prefeito Márcio Lacerda não entregou nenhuma casa pelo Programa Minha Casa Minha Vida para famílias de zero a três salários mínimos. Pior! Inventou o Programa Minha Pedra Minha Vida, pois, com dinheiro público e usando o suor – força de trabalho – de trabalhadores mandou colocar pedras pontiagudas de concreto debaixo de viadutos da capital mineira para impedir que os mais de 2 mil irmãos/ãs nossas que sobrevivem nas ruas de BH durmam debaixo dos viadutos.
Proibição e repressão às questões sociais! Essa tem sido a marca do jeito Márcio Lacerda (des)governar Belo Horizonte. Eis provas disso: Os artesãos de rua, os chamados hippies, têm sido perseguidos e expulsos da Praça Sete, sob a alegação de que são camelôs, o que é um desrespeito à admirável cultura hippie. O povo de rua está sendo expulso do centro de Belo Horizonte e empurrado para os bairros. Não há em BH política pública séria para cuidar do povo de rua. De abril/2011 a abril/2012, mais de 50 irmãos nossos em situação de rua foram assassinados em BH. Os abrigos da PBH são poucos e, em condições precárias, estão superlotados. “É melhor sobreviver nas ruas do que naqueles abrigos que são horrorosos”, dizem muitos dos nossos irmãos que estão nas ruas. Caminhões jogando água fria no povo de rua nas calçadas à noite; pertences do povo de rua sendo confiscados.
Márcio Lacerda também implantou as Parcerias Público-Privadas - PPPs - nas áreas de saúde e educação municipal, algo inaceitável. Não se dialoga com os movimentos sociais. Não se ouve o povo. Ruas, como a Rua Musas, estão sendo vendidas. A lógica é “tudo em nome da COPA”: autorização para construção de dezenas de hotéis de luxo que não vão beneficiar os pobres; desrespeito ao meio ambiente (Cf. Nova Regional na Mata dos Werneck, Mata do Planalto etc.); quilombolas sendo pisados nos seus direitos constitucionais (cf. Quilombos Luízes, Mangueira e da Serra); grandes obras (viadutos e alargamentos de avenidas) que estão expulsando os pobres para a periferia da região metropolitana e aprofundando o modelo de mobilidade rodoviarista, individual e poluente. Nas remoções injustas de comunidades pobres, as indenizações ainda são pequenas e insuficientes para comprar outra casa em BH.
Márcio Lacerda está no PSB, mas ele é PSDB no DNA. Ele veio do PSDB e governa igualzinho o PSDB do governo estadual.
BH não pode continuar sendo a cidade do proibido. Proibiu-se reunir em praças públicas, manifestar no espaço público e desfrutar o que a cidade tem de melhor.
O Restaurante Popular, memorável iniciativa da época de Patrus Ananias, foi, na prática, quase privatizado pelo atual prefeito. Dia 10 de maio de 2010, após 16 anos sem reajuste, o prefeito Márcio Lacerda aumentou de uma só vez em 100% os preços nos Restaurantes Populares de BH. A sopa, que era R$0,50, passou para R$1,00; o bandeijão, que era R$1,00, passou para R$2,00; o marmitex, que era R$1,50, passou para R$3,00. Com isso a prefeitura retirou a maior parte do subsídio que repassava aos Restaurantes Populares. Assim, são restaurantes pouco populares, mas salgados. São os mais caros de todas as capitais do sudeste. Em Brasília há 12 Restaurantes Populares (comunitários). Lá o povo tem direito a comprar de segunda a sábado duas refeições por dia por R$1,00 cada. Ou seja, almoça e leva o marmitex para jantar. O GDF, governo do PT, repassa R$2,74 por cada refeição feita. Lacerda acabou com isso em BH. Conseqüência: muitos pobres que se alimentavam nos restaurantes populares ficaram sem essa ajuda.
Em Belo Horizonte paga-se uma das passagens de ônibus mais cara do país. Além do preço da passagem que pesa no bolso do/a trabalhador/a, não existe ônibus suficiente. As filas são enormes e os ônibus sempre superlotados. As obras para a COPA têm dificultado cada vez mais o acesso dos pedestres que utilizam o transporte coletivo. O povo tem ficado encurralado nos pontos de ônibus, em longo tempo de espera, faça sol ou faça chuva. A cidade de BH cada vez menos é pensada para quem anda a pé. Facilita-se só para quem anda motorizado.
O PT precisa resgatar seus princípios, o jeito de governar petista: inversão de prioridades, diálogo com a sociedade, participação popular, cuidar da cidade e das pessoas.
O Márcio Lacerda tem o maior tempo de TV e Rádio e tem o maior poder econômico o defendendo na Campanha Eleitoral. Logo, faz bem ouvir o alerta de Malcolm Muggeridge: "Nunca se esqueça de que apenas os peixes mortos nadam a favor da  correnteza."
Pelo exposto, acima, eu votarei em Patrus Ananias e sugiro votar 13 – Patrus para prefeito da capital de Minas.
Frei Gilvander Luís Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra - CPT -, assessor do CEBI, SAB, CEBs e Via Campesina.
Belo Horizonte, MG, 14 de setembro de 2012.

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