Casal quer ser indenizado por padre que recusou batismo


Um casal de Belo Horizonte briga na Justiça para ser indenizado por danos morais pela Igreja Católica. Os dois alegam que foram humilhados pelo padre Milton Tavares, da Paróquia Bom Pastor, no bairro Dom Cabral, na região Noroeste da capital, que se recusou a batizar o filho do casal, em fevereiro do ano passado.

Para os pais da criança, que preferiram ter a identidade preservada, a justificativa dada pelo religioso de que ambos estavam fora das normas da igreja por não ter legitimado a união foi um constrangimento. A criança acabou batizada em outra paróquia. Apesar de o caso ter acontecido em 2011, só neste ano o casal decidiu recorrer à Justiça. O processo tramita na 3ª Vara Cível de Belo Horizonte, mas sem previsão de ser julgado."Houve discriminação. Essa é uma situação que não cabe na sociedade", argumenta o advogado Eduardo Lopes, que representa a família. O defensor não revela o valor da indenização. Como prova, a defesa do casal vai utilizar uma gravação feita na casa paroquial. No áudio de quase quatro minutos, o padre admite que não batizaria a criança por que os pais, mesmo morando juntos há dois anos, na época, não haviam oficializado a união perante a igreja.

Depois de dois meses tentando convencer o padre Milton, o casal procurou uma igreja no bairro Nova Suíça e conseguiu, enfim, batizar a criança. "Fomos humilhados, ele (padre Milton) disse que por não sermos casados não seríamos um bom exemplo para o nosso filho", afirmou a mãe da criança, uma promotora de vendas, de 23 anos.

A mulher contou que a insistência em realizar o batizado do filho na paróquia Bom Pastor foi uma tentativa dela e do marido de manter a tradição da família. O pai e a tia do garoto, hoje com 1 ano e meio, também foram batizados no local. "Fiquei arrasada. Nas três vezes que conversei com o padre, cheguei a implorar para ele batizar meu filho, mas ele disse que não podia. Nada justifica isso".

De acordo com a promotora de vendas, a intenção da família ao processar a igreja é evitar que outras famílias sofram o constrangimento que ela viveu. "Sou religiosa e acredito em Deus. Não sou nenhuma fanática, mas esse padre não quis apresentar Deus a meu filho, que é só uma criança. Achei isso um absurdo".

O outro lado. Há 11 anos à frente da Paróquia Bom Pastor, o padre Milton nega que tenha submetido o casal a humilhação. Ele preferiu não comentar a acusação feita pelo casal no processo. "O que eu falar poderá atrapalhar no processo", afirmou. O pároco disse apenas ter seguido o que prega a religião católica. No entanto, oficialmente não existe uma regra que proíba casais unidos de forma informal de batizar os filhos nos moldes tradicionais da religião.
SEVERIDADE
Reitor explica que recusa é crime canônico
Em entrevista concedida à reportagem de O TEMPO sobre a situação do casal, o reitor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), padre Jaldenir Vitório, disse que "o ato do padre se constitui como crime canônico, pois, conforme reza o Código de Direito Canônico (cânone 843 §1), não se pode negar o sacramento a ninguém.

Por outro lado, a igreja não se preocupou em criar nas pessoas a consciência batismal, e isso fez do batismo muito mais um ato social do que um compromisso eclesial. De qualquer forma, é importante dizer que o sacramento do matrimônio não é pré-requisito para o sacramento do batismo".

falta paciência.Ainda segundo o reitor da FAJE "alguns padres são mais severos que o necessário e não têm paciência para praticar o zelo pastoral. Hoje em dia o conceito de família é algo muito complicado e complexo e, por isso, realmente há algumas regras e alguns ‘nãos’ que oportunamente devem ser ditos, entretanto, alguns preferem simplesmente dizer ‘não’ sem acolher o fiel, e essa falta de saber lidar é o que faz com que as pessoas se afastem da igreja. Ou seja, mais importante do que o ato de dizer ‘não’ é o modo como o não é dito". (Rogério Maurício)
Negar sacramento não é uma orientação da Igreja, diz vigário
O vigário episcopal para ação pastoral da Arquidiocese de Belo Horizonte, padre Aureo Nogueira de Freitas, explicou que não existe qualquer orientação da Igreja Católica para se negar a realização do batismo. No entanto, sem considerar o caso específico do casal, o religioso explicou que, pela perspectiva da vida cristã, é recomendável que os pais da criança tenham uma vida religiosa ativa.

"O matrimônio faz parte dessa vida cristã. Quando os pais não são casados, o ideal é o batizado seja adiado e os pais sejam acompanhados e preparados para a realização da cerimônia", explicou.

De acordo com o religioso, é por isso que, antes do batismo, pais e padrinhos passam por um curso para entenderem o sentido do sacramento e da cerimônia. "O batizado tem a função de inserir a pessoa na comunidade cristã. Quando ela é um adulto, faz isso consciente. No caso da criança, cabe aos pais entenderem o sentido de tudo isso", ressaltou. (RR)

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