Internet revoluciona comunicação entre políticos e eleitores
O diretor de Estratégia Digital da campanha presidencial de Barack Obama, Joe Rospars, defende que a internet mudou não apenas o jeito de ser fazer política, mas também a participação dos eleitores no processo político e a comunicação entre candidatos e o eleitorado.
Em entrevista à BBC Brasil, ele falou sobre as estratégias usadas na eleição americana e a nova comunicação que está surgindo a partir do uso da rede nas campanhas políticas.
Rospars é sócio-fundador da Blue State Digital, empresa americana que fechou parcerias com João Santana, publicitário brasileiro responsável pela campanha eleitoral do PT em 2010.
Leia trechos da entrevista.
BBC Brasil - Como a internet está mudando o jeito de se fazer política no mundo?
Joe Rospars - A maior mudança é que a barreira para entrar é menor e mais pessoas podem participar de diferentes maneiras do processo político. Você não necessariamente tem que ser uma pessoa envolvida com política em período integral ou ser membro de um partido para expressar sua opinião ou organizar algo em sua comunidade.
BBC Brasil - A rede está então tornando o processo mais democrático?
Rospars - É uma ferramenta acessível para as pessoas se envolverem em política. Quando um maior número de pessoas começa a ter acesso a celulares e à internet, as ferramentas estão ali disponíveis para as pessoas escolherem participar e fazer isso de uma maneira mais profunda e com maior impacto do que acontecia no passado.
BBC Brasil - Normalmente política é visto como um assunto difícil. Às vezes, até mesmo tedioso. Você acha que a internet está mudando esta percepção?
Rospars - Eu acredito que está mudando sim esta percepção e mudando também o diálogo. Você pode achar que é um assunto chato ou difícil, mas com a internet há mais pessoas que participam da conversa, então você pode ler, ouvir ou assistir vozes que são mais parecidas com a sua própria. Então, você pode falar com alguém da sua comunidade ou que está interessado no mesmo tipo de assunto que você está. É uma comunicação diferente.
BBC Brasil - Qual é grande diferença entre a internet e outras mídias no que diz respeito à política?
Rospars - A grande diferença é que não são mais apenas os políticos e a mídia que determinam o discurso, com a internet há também pessoas em suas comunidades conversando entre si.
BBC Brasil - Qual foi o mérito da campanha de Obama no que diz respeito ao uso da internet?
Rospars - A grande diferença foi que fomos capazes de abrir a estrutura da campanha e assim permitir que pessoas que apoiavam Obama assumissem um papel de liderança e se tornassem parte desta estrutura.
Construímos uma rede de pessoas que estavam dispostas a fazer o trabalho para que ele fosse eleito. Pessoas nas suas comunidades tomaram responsabilidades que iam além do seu voto apenas. Elas também eram responsáveis por conseguir outros votos. E como o Obama era um candidato com um apelo político forte e por causa do desejo de mudança das pessoas, os eleitores foram capazes de demonstrar esta energia.
BBC Brasil - Qual conselho você daria a um candidato?
Rospars - Há circunstâncias diferentes em cada país, mas o principal fundamento de uma campanha bem-sucedida será abrir o processo ao maior número de pessoas possíveis e ouvir o maior número possível de pessoas.
Eu diria que o principal conselho é abrir a estrutura para o maior número de pessoas e de maneira substantiva. A melhor estratégia é tentar estar em todos os lugares e engajar as pessoas independentemente do site ou rede onde elas se encontrem.
BBC Brasil - Como fazer com que a campanha vá da internet para as ruas e vice-versa?
Rospars - É importante que todas as partes da campanha estejam integradas para que os seus partidários façam parte da mesma operação e organização e assim possam ficar online na campanha, mas também offline nas suas comunidades e vizinhança. Uma das nossas conquistas foi integrar estes dois aspectos muito bem para que todos fizessem parte da mesma experiência e as pessoas se sentissem parte de uma equipe.
BBC Brasil - Mas como estimular as pessoas a participar?
Rospars - Não há substituto para uma mensagem forte e um candidato que acredita no que diz e tem plano apoiados por seus eleitores. Há novas técnicas e ferramentas, mas não há um segredo especial. O importante é abrir para mostrar o projeto do candidato.
A tecnologia simplesmente torna possível que mais pessoas participem, mas o caráter político continua sendo o mesmo. A internet torna tudo muito mais fácil e mais pessoas podem participar, mas no fim é uma questão de construir relacionamentos.
BBC Brasil - Há um perfil de candidato que combina melhor com a internet?
Rospars - Não necessariamente, depende mais de como você estrutura a campanha e do quanto você vai conseguir envolver as pessoas.
BBC Brasil - A internet também permite que acusações e mentiras se espalhem muito mais rapidamente. Como lidar com isso?
Rospars - Estas são apenas ferramentas. Então pessoas que querem usar a rede para espalhar acusações vão fazê-lo. E na campanha do Obama nós também tivemos esta questão e o que fizemos foi tentar ser realmente muito aberto e objetivo em relação a isso e dar aos nossos partidários o apoio para responder a estas acusações.
Nós coletávamos todas estas falsas informações e ataques e publicávamos no nosso site ao lado dos fatos que contestavam aquelas acusações e mostravam que elas eram falsas.
Quando você ouve um boato, você vai até o Google e tenta checar. Nós queríamos ter certeza que uma das páginas que as pessoas iriam encontrar seria a própria página do Obama com a acusação e a verdade ao lado.
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